O mapa abaixo ilustra as rotas prováveis de Diogo Cão (1482), Dias (1487), e Gama (1497), bem como viagens posteriores. A viagem de Vasco da Gama foi a primeira que utilizou o Golfão, ou volta do largo, no Atlântico Sul.
A imagem foi extraida de um ficheiro Google Earth fornecido pela exibição Encompassing The Globe. Hoje em dia o conhecimento da geografia da terra é um dado adquirido, mas quando o monge espanhol Beatus Liebanensis desenhou o mapa inserido na parte superior direita na imagem, considerado um ponto alto da cartografia da Idade Média, as coisas eram bem diferentes. A carta do século VIII, reproduzida de uma cópia do século XI publicada por Miller & Kammerer, mostra o Mar Vermelho (Mare Rubrum) como uma faixa vermelha por baixo de uma África quadrada.
Todos os escritores abordam o seu trabalho de forma diferente. Mas todos partilham a necessidade de fazer investigação, que atravessa as mais diversas áreas, incluindo aspectos técnicos, geográficos e culturais. A investigação realizada para O Caminho da Índia demorou vários anos, usando material de uma variedade de fontes, incluindo livros, visitas, museus, bibliotecas, sítios da internet e discussões com especialistas. Escrever sobre um periodo específico ou sobre uma determinada zona geográfica requer que as descrições sejam apropriadas e bem enquadradas. Eis alguns exemplos de O Caminho da India:
1. Referências em diálogo a uma circulação oceânica no sentido dos ponteiros do relógio (ou no sentido retrógrado). Só poderiam ser feitas se à época já houvesse relógios com ponteiros (havia);
2. A relação ente a palavra japonesa Arigato, e a palavra portuguesa Obrigado. As duas têm o mesmo significado (as origens são totalmente diferentes);
3.Consumo de pão de milho. O milho chegou supostamente à Europa só depois de Colombo, ou seja após 1492-93. Contudo outras variedades de milho (Panicum) existem na Europa desde o periodo neolítico, há mais de 7000 anos. As palavras inglesas corn e millet são ambas designadas por milho em português;
4. Será que existiam plátanos em Lisboa num último quartel do século quinze? O odioso Vilaça esconde-se atrás de uma dessas árvores perto da Ribeira das Naus (a resposta é sim, os plátanos são originariamente do Irão ou Caxemira, e existem na Europa há muitos séculos).
Como alicerces de O Caminho da India existem cerca de 350 comentários no manuscrito principal, (alguns dos quais são possíveis notas de rodapé, que não incluí porque não me agrada particularmente esse tipo de notas), um documento de140 páginas com fontes primárias e respectivos conteúdos para os vários capítulos, notas da Library of Congress, British Museum, Torre do Tombo, e Casas del Tratado em Tordesilhas, entre muitas outras. Acresce um arquivo de fotografia e video que inclui mapas, navios, locais, rostos, e instrumentos de navegação. Essencial para alguma da caracterização e muitas das descrições.
Os motores de pesquisa são um recurso muito útil para todo o género de materiais, e preciosos para validação de factos quanto se está embalado a escrever e é preciso verificar qualquer coisa sem meter travões a fundo.Como exemplo, este sítio bem conseguido sobre a física da vela. Mas na net, caveat emptor. Alguns sítios são como um bikini: o que mostram é sugestivo, o que escondem é vital!
O Google Earth foi fantástico para elaboração de rotas, verificação de locais e medição de distâncias. No total, as ferramentas electrónicas encurtaram a pesquisa em mais de um ano, e muito pouparam no tédio. Por exemplo, é possível requisitar-se online material da Biblioteca do Congresso, e aparecer na Jefferson Reading Room duas semanas depois para levantar tudo e ler.
Guardei os livros para o fim. Houve muitos, em várias línguas. Lisboa é um dos melhores sítios do mundo para comprar livros sobre as descobertas, e os alfarrabistas da zona do Chiado são uma mina. A web aqui também ajuda, através de sítios como o AbeBooks. Aqui estão alguns dos livros (de um total de cerca de 45) que foram utilizados como fontes factuais para O Caminho da India.
Bensaude, J., 1913. Regimento do Astrolábio de Évora. Sadag Geneva.
Boxer, C.R., 1975. Women in Iberian expansion overseas, 1415-1815. Some facts, fancies, and personalities. Oxford University Press.
Conde de Ficalho, 1898. Viagens de Pêro da Covilhã. Fronteira do Caos, 2008.
Fontoura da Costa, A., 1939. A marinharia dos descobrimentos. Agência Geral das Colónias.
Lacy O’Leary, D.D., 1872. How Greek science passed to the Arabs. Routledge & Kegan Paul Ltd., 1979.
Peres, D., 1943. Descobrimentos Portugueses. Portucalense Editora.
Ravenstein, E.G., 1908. Martin Behaim, his life and his globe. George Philip & Son.
Subrahmanyam, S., 1997. The career and legend of Vasco da Gama. Cambridge University Press.
Velho, A., 1497-99. Roteiro da primeira viagem de Vasco da Gama. Agência-Geral do Ultramar, 1969.